sexta-feira, 16 de setembro de 2011
As cortesãs
Uma cortesã é menos que uma amante e mais que uma prostituta. Ela é menos que uma amante porque ela vende seu amor por benefícios materiais; ela é mais do que uma prostituta porque ela escolhe seus amantes. A cortesã é, na verdade, uma mulher cuja profissão é o amor e cujos clientes podem ser mais ou menos distintos.
Ela pode ter sido uma mulher respeitável, levada, por um caso infeliz, para o demi-monde (meio-mundo); ela pode ser uma mulher de origem humilde cuja única esperança parecia ser sua aparência física. Ela pode ser uma artista que, de boa vontade, abandona suas esperanças inadequadas no teatro; ela pode simplesmente ser uma carreirista, levando uma vida de aventura. Mas qualquer que seja sua origem e propósito, quaisquer que sejam seus outros talentos, a profissão de cortesã é vender seus favores, praticar suas artes e habilidades particulares.
O século XIX deu à cortesã todas as oportunidades de uma era dourada. Em 1815, a queda de Napoleão encerrou uma era de guerras que havia se estendido por gerações. Pela primeira vez durante décadas, na verdade, durante séculos, a juventude francesa não era convocada a gastar suas energias principais no campo de batalha ou no mar. A Casa de Bourbon havia sido restaurada sob a égide das Forças Aliadas. A França estava livre para praticar as artes e aproveitar os prazeres da paz. A Revolução Francesa havia acontecido somente vinte e seis anos antes e, agora, uma revolução social estava mudando a Europa. A classe média não era mais meramente o elemento estável da população. Pela primeira vez na história da França, ela estava aproveitando o poder e aproveitou-o amplamente através de seu dinheiro.
Como o dinheiro não era, agora, privilégio das classes altas, podia ser ganho por qualquer pessoa com senso financeiro e determinação. A convulsão política produziu seus especuladores; a revolução industrial abriu a perspectiva de centenas de projetos. A revolução social significava que as novas camadas da sociedade deviam ser consideradas. Novos mercados e novas invenções apresentavam-se para os burgueses empreendedores. Havia a necessidades de comércio (uma nova clientela ficou mais interessada em comidas e modas sofisticadas). Houve o estabelecimento da Imprensa popular, a existência de uma nova audiência nos teatros e concertos. "O consumo de peças é tão grande hoje", escreveu Gautier em 1843, "que os dramaturgos não conseguem acompanhar: Uma das condições de nossa época é impor o trabalho contínuo, sem descanso ou pausa, para os artistas e escritores". Um novo e imenso público leitor foi aberto para os romances populares, livros de viagem e livros de natureza mais edificante. Na metade do século, a rede ferroviária, espalhando-se pela França, alterou amplamente as concepções de viagens e apresentou oportunidades mais significativas. Não é de se admirar que o dinheiro tenha se tornado o leitmotiv da existência. Na década de 1860, Gautier escreveria que "a religião do dinheiro é, hoje, a única que não tem incrédulos".
O século XIX foi a era das carreiristas deslumbrantes e algumas das carreiras mais espetaculares foram as das grandes cortesãs. A maioria delas, vez ou outra, tinha seu próprio hôtel, talvez seu próprio château, seus cavalos e carruagens impecáveis, suas roupas e jóias magníficas, sua influência sobre os homens eminentes da época. Elas tinham sua marca no Bois de Boulogne, em seus camarotes no teatro, em Longchamp, Vichy, Baden, algumas vezes mais afastado. Elas constituíam uma classe à parte, uma extraordinária comunidade feminina. Elas criaram na realidade o que Dumas fils reconhecia na ficção: elas eram as construtoras do demi-monde.
Poucas cortesãs ganharam imortalidade em diferentes formas de arte. Marie Duplessis conseguiu-a devido à sua morte, inspirando La Dame aux Camélias e La Traviata. Madame Sabatier conseguiu-a em vida, devido a Baudelaire.
Muitas mulheres célebres eram cortesãs somente por prazer.
Entre elas estão
Mme de Staël,
Mme Sand,
Rachel, que levou uma vida turbulenta no palco e fora dele e Sarah Bernhardt que declarou: "Estive entre os grandes amantes de meu tempo". Hortence Schneider permanece, acima de todas, a intérprete de Offenbach, não importa o quão famosa sua vida privada tivesse sido; e La Castiglione, que foi enviada por Cavour para seduzir Napoleão III, foi uma fina agente política, um ornamento suntuosamente maravilhoso do Segundo Império, mas ela não podia ser chamada de fille de joie (prostituta).
Ainda que mulheres como estas não pudessem entrar na classificação de grandes cortesãs, elas ajudaram a criar o clima no qual as cortesãs puderam surgir. Elas ajudaram a definir o demi-monde no mapa social; elas refletem-no, algumas vezes, em seus livros, músicas e seus artistas e seu próprio estilo de vida
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